Uso micros da linha PC há quase vinte anos e mais que vinte não seria possível posto que a IBM só lançasse o primeiro deles em agosto de 1981. Comecei a escrever sobre eles há uma década. E desde então, querendo ou não, sou obrigado por dever de ofício a ter sempre uma máquina que, se não for “o que há de mais moderno”, deve ao menos ficar perto disso.
Ora, se levarmos em conta a rapidez com que a tecnologia evolui, não há de ser difícil concluir que nestes anos todos nós tivemos um bocado de máquinas. E bota bocado nisso.
O problema é que as máquinas que encontramos em lojas nunca são inteiramente satisfatórias.
Não é que eu seja assim tão exigente. É que há coisas que desejo experimentar, seja por mera curiosidade, seja porque preciso de subsídios para escrever sobre elas, e nem sempre dá para encontrá-las todas em um modelo comercial. Resultado: seja por esta razão, sejam meramente por prazer, desde minhas primeiras máquinas que, exceto micros portáteis tipo “notebooks” e “netbooks”, todas elas são montadas a partir da relação dos componentes que atendem minhas necessidades e gosto. E montadas por este vosso criado.
Para que se tenha idéia, a primeira que montei foi um saudoso AT com processador 80486. Vivíamos ainda os tenebrosos tempos da “reserva de mercado”, uma torpe invenção da ditadura que, com a desculpa de desenvolver a indústria nacional, fez a fortuna de meia dúzia de apaziguados do sistema enquanto manteve o país na vanguarda do atraso por quase duas décadas, obrigando o pobre usuário patrício a pagar o triplo do valor de um computador para comprar um conjunto de componentes que no hemisfério norte era tido como sucata.
Mas aquela era a regra e havia que conviver com ela. Portanto, consegui a placa-mãe pedindo a um amigo que vivia no exterior que a trouxesse com ele em uma de suas visitas ao Brasil, comprei memória e processador em um importabandista de confiança, comprei o resto por aqui mesmo pagando os preços exorbitantes da época e me preparei para pôr mãos à obra.
Mas como? Se literatura técnica praticamente não havia.
A solução foi fazer um curso para aprender a montar micros.
De tudo o que ouvi no curso, o que mais me surpreendeu foi uma frase lapidar proferida pelo instrutor logo na primeira aula: “Montar micros é tão fácil que a única dificuldade que vocês poderão encontrar é não achar o parafuso certo”. Jamais a esqueci. Mesmo porque não posso, já que sou forçado a me lembrar dela sempre que, ao montar um micro, preciso fixar um componente e não encontro o parafuso adequado. Frase mais verdadeira não há…
A máquina na bancada (foto reprodução / Anderson Rodrigues)
Tudo isto me veio à lembrança porque, tendo comprado alguns badulaques, resolvi montar máquina nova para substituir meu micro de trabalho. Máquina que vocês vêem na figura quando ainda na bancada e na qual, já pronta, digito estas mal traçadas com o imenso prazer de quem estréia brinquedo novo.
Mas todo este prazer nem chega perto daquele que senti ao montá-la.
Porque só quem montou um computador para si mesmo pode entender aquela coisa mágica que acontece quando se vê o micro funcionando pela primeira vez após montado.
É quase como um encantamento.
Se junta um mundo de peças inertes, encaixa-se cada uma em seu lugar, aparafusa-se, ajusta-se, configura-se tudo e, ao fim, como que em um passe de mágica, aparece um computador funcionando em todo seu esplendor.
Não é como montar um brinquedo mecânico ou coisa parecida. Pois em um computador há algo de especial. Ele tem seus humores, suas birras, suas pirraças, seus acessos de má vontade, trava quando fica zangado, exige ser reinicializado para funcionar direito, é quase como se fosse uma coisa viva e temperamental.
Eu já montei máquinas de perder a conta. Mas não cesso de me maravilhar sempre que cada uma delas, depois de instalado o sistema operacional, é inicializada, ilumina a tela, toca aquela musiquinha e me pede a senha para deixar que eu a use.
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